Cidadã norueguesa!

Sexta-feira foi o último dia de aula com os alunos. Neste dia não há ensino, os alunos organizam jogos e quizzes, tomam sorvete e às 11.00 recebem o boletim, um abraço das professoras e são dispensados com os votos de um bom verão. 

Enquanto estava com os alunos na classe neste dia, recebi um e-mail. Eu nunca uso o celular na sala de aula, mas neste dia era necessário usar o celular para jogar os quizzes que os alunos prepararam.
O e-mail era da imigração norueguesa, a UDI e nele estava escrito: “Olá. Você recebeu a cidadania norueguesa.” Informei meu marido, a professora que trabalha comigo e meus alunos imediatamente.

Dentro de alguns dias receberei uma carta contendo o procedimento para tirar o passaporte norueguês. Não terei que entregar o passaporte brasileiro, pois a Embaixada brasileira me orientou sobre isso. Na prática, ter a cidadania norueguesa não vai mudar muito a minha vida cotidiana. Hoje pensei no que eu poderei fazer sendo cidadã que eu não podia antes. Por enquanto descobri que vou poder votar nas eleições para o Parlamento além das eleições municipais e posso ser convocada para fazer parte do corpo de jurados em um julgamento. Uma funcionária da escola foi convidada para um jantar com os reis da Noruega em comemoração dos seus 25 anos de reinado na próxima quinta-feira. Estes convites são enviados a cidadãos noruegueses aleatoriamente. Isto significa que no futuro, eu posso ser convidada para uma ocasião parecida também!

Provavelmente em novembro haverá uma cerimônia para os novos cidadãos noruegueses organizada pelo governo estadual daqui (fylkeskommune). Nesta cerimônia haverá algumas apresentações musicais, cantaremos o hino nacional da Noruega (preciso decorar a letra!), teremos que declarar lealdade ao país lendo este texto:

Som norsk statsborger (Como cidadã norueguesa)
lover jeg troskap til mitt land Norge (eu prometo lealdade ao meu país Noruega)
og det norske samfunnet, (e à sociedade norueguesa)
og jeg støtter demokratiet (e eu apoio a democracia)
og menneskerettighetene (e os direitos humanos)
og vil respektere landets lover. (e vou respeitar as leis do país)

Receberemos também um livro e haverá uma recepção com comes e bebes ao final. Vou aguardar meu convite chegar. E vou usar meu bunad com orgulho.

Eu sinto que é o momento perfeito para me tornar cidadã norueguesa. Estou aqui há quase 10 anos com meu esposo norueguês, trabalho e pago meus impostos desde que cheguei aqui, falo o idioma fluentemente, cursei ensino superior aqui durante 6 anos (e pretendo cursar mais um ano), sou proprietária de um imóvel…Tenho família no Brasil e sinto saudades de muitas coisas (outras nem tanto), mas estou plenamente convencida de que é aqui que obtive minhas maiores conquistas (meu tão sonhado lugar ao gelo :)) e tenho minha vida atarefada, mas que me dá muitas alegrias. 

Estou pegando firme nos exercícios e na mudança de hábitos alimentares. Me exercito vigorosamente três vezes por semana. Parei de tomar café diariamente e passei a tomar mais chás e água. Estou preparando saladas verdes quase todos os dias e reduzi drasticamente o consumo de doces e carboidratos simples. Ainda estou longe de ser exemplar, mas estou satisfeita com este começo. 

Amanhã será meu último dia de trabalho deste ano letivo. Teremos somente planejamento. Meu escritório será reformado, então tive que encaixotar todos os pertences que tenho no trabalho. Volto à escola segunda-feira dia 15 de agosto e os alunos retornam às aulas dia 18. Não temos nenhuma viagem planejada. Meu esposo irá trabalhar durante todas as minhas férias. No próximo semestre, ele vai fazer um mestrado MBA em economia, e terá reduzir suas horas de trabalho, o que consequentemente afetará nosso orçamento. Será estranho ficar na Noruega durante todo o verão, já que costumamos viajar nesta época, mas penso que com o MBA ele terá melhores oportunidades de trabalho no futuro. Estamos investindo tempo em algo proveitoso para sua carreira. Eu vou tentar novamente fazer as matérias de religião no próximo semestre, será bom ter um companheiro de estudos aqui em casa.

Como vou estar de férias, pretendo escrever mais, vou fazer o possível.

8 anos de Noruega!

Tempos de faxina
Ontem, 22 de outubro, fez 8 anos desde que vim parar na Noruega. Para marcar a data resolvemos rever as fotos do dia em que cheguei e o que aconteceu nos próximos meses. Devo admitir que fiquei emocionada ao recordar todas as experiências que vivenciei nesses oito anos. As fotos mais especiais foram as da época em que eu trabalhava de faxineira. Uma época difícil, em que eu sentia que a vida não progredia por causa da falta de oportunidades e cheguei a pensar que teria que me contentar em trabalhar em ocupações que não condiziam com minhas ambições e competência. Fazer faxina era um trabalho digno, tranquilo, mas eu tinha uma meta de que esse serviço seria um ganha-pão temporário enquanto eu não conseguisse outras oportunidades. Mas, nunca, nunca mesmo cogitei a possibilidade de voltar ao Brasil. Desde o começo via a Noruega como meu novo e definitivo lar.
Foi quando me tornei fluente em norueguês e tirei minha carteira de motorista norueguesa que as primeiras portas se abriram. Ainda na faxina, mas com mais trabalho e melhor renda. O fato de eu poder dirigir meu próprio carro aonde eu quisesse me deu auto-confiança e forças para alçar voos mais altos. Passei de uma faxineira que sempre ia fazer limpeza junto com outras colegas a uma faxineira quase que autônoma, que podia ir sozinha a qualquer lugar para trabalhar por que sabia conversar com o cliente e não dependia de condução e de carona.

Artigo de jornal com minha classe do ensino médio para adultos
Mas, definitivamente, foi quando eu me matriculei no curso de capacitação para adultos que queriam fazer faculdade (Studiekompetansekurs) que eu percebi que havia ótimas oportunidades esperando por mim. Comecei a ler literatura de qualidade em norueguês, aprendi sobre a sociedade e estudei em uma classe formada somente de alunos noruegueses, o que me ajudou muito para melhorar o convívio social. Um grande erro é emigrar e não se misturar com os noruegueses, por que cria uma segregação voluntária por parte dos estrangeiros. Fiz o exame final em norueguês junto com todos os alunos do colegial (videregående skole), tirei nota 4 (nota máxima é 6) e tirei nota 6 na prova oral, também em norueguês. Nunca vou me esquecer da frase que a professora que me examinou disse ao me comunicar a nota: “Sua nota é seis, mas bem que poderia ser um sete!”.

Ao deixar a vida na pequena ilha Frøya e me mudar para Klæbu, ao lado de Trondheim e com certificado de Studiekompetanse em mãos, me matriculei na NTNU para cursar um ano de Letras em Inglês. Foi nesse ano que comecei a sentir que meus sonhos poderiam, sim, se realizar. Estar em uma aula de literatura com professores ingleses que davam um verdadeiro show de conhecimento, que me puseram em contato com obras primas de textos e poemas alegravam os meus dias e me faziam querer aprender mais e mais. Lembro que me senti muito triste ao receber a notícia de que meu avô havia falecido e eu não poderia estar em seu funeral.

Ao completar o ano de Letras em Inglês, nos mudamos para um apartmento alugado em Trondheim e me matriculei em Letras em Espanhol. Nesta época fazia faxina em uma creche. Em janeiro de 2010 me cadastrei em uma agência de empregos temporários e, por ironia do destino, recebi, em março, uma proposta para trabalhar como professora em uma ilha chamada Frøya. Larguei a faxina e passei a lecionar dois dias por semana. Tinha que fazer uma viagem de barco de 2 horas, mais uma viagem de ônibus de 1 hora para chegar ao meu local de trabalho. Na volta, uma viagem de ônibus com duração de 3 horas. Foi nessa época em que recebi a notícia de que com mais 60 créditos eu poderia fazer Prática Pedagógica e tirar a licenciatura que me autorizaria a lecionar. Me matriculei então no curso de Ciências Sociais para obter esses 60 créditos. Em julho de 2010 recebi um telefonema da escola onde trabalho até hoje. Eles queriam me contratar como professora de espanhol. A mesma escola em que meu marido estudou. Nada de longas viagens para trabalhar, agora tinha um emprego na cidade vizinha à Trondheim! Comecei somente lecionando espanhol, logo passei a lecionar inglês e hoje leciono, além dessas duas matérias, história, geografia, estudos sociais e religião.

Esta vista é um privilégio e uma inspiração para continuar batalhando
Em agosto de 2011 começava a Prática Pedagógica junto com o trabalho. Foram certamente os anos mais estressantes da minha vida na Noruega. Sempre algo para ler, um trabalho para entregar, provas para corrigir e finalmente o estágio, que exigiu muito do meu tempo. Em maio de 2012 realizamos o sonho da casa própria  e compramos nosso apartamento que não trocaríamos por nada nesse mundo. Temos uma das vistas mais lindas da cidade. Em junho de 2013 entreguei meus trabalhos finais e fiz o exame oral. Nota A no exame oral de pedagogia, Nota A no trabalho escrito de pedagogia, Notas B nos dois trabalhos de didática de inglês e de espanhol. Havia chegado ao fim da linha. Tinha documentação que provava que eu era uma professora com competência formal para lecionar em qualquer escola do ensino fundamental e médio do país.

Viajamos para o Brasil em julho do ao passado e passamos 5 meses e meio descansando, férias longas e merecidas financiadas com muito trabalho e economias. Ao voltar eu já tinha contrato assinado com a escola para um emprego permanente. Recebi a proposta para aumentar a carga horária, de 80% para 100%. Hoje, trabalho com o que gosto e sinto que fiz as escolhas certas.

Os planos para o futuro são fazer ainda mais um curso na NTNU, de religião e conseguir ainda mais 60 créditos para melhorar meu currículo. Nesta semana enviei meus documentos e agora é aguardar a resposta.

Oito anos de muito trabalho, estudos, saudades da família, vitórias, derrotas e muitas alegrias. Que venham mais 8!

Lugar 100% ao gelo!

O ensino é um produto perecível!, diz o cartaz
exposto na sala dos professores para protestar contra
a sugestão dos municípios de mudar o horário de trabalho
dos professores

Quando voltei do Brasil já sabia que tinha meu emprego efetivo garantido, pois havia assinado o contrato antes de ir, em julho do ano passado. Porém, meu emprego é de somente 80%. Aqui na Noruega, os empregos podem ter diferentes cargas horárias e o salário é pago de acordo com a carga horária que se trabalha. Isso significa que se alguém diz ter um emprego 50% efetivo, ele ou ela trabalha metade das 40 horas semanais (incluindo o almoço). Algumas pessoas que trabalham abaixo de 100% têm a sorte de poder ficar em casa alguns dias na semana. No meu caso, eu não tenho nenhum dia livre, mas às quintas-feiras saio uma hora mais cedo e às sextas-feiras trabalho somente até a hora do almoço.

Há algumas semanas, o diretor veio me perguntar se eu estaria interessada em aumentar minha carga horária de 80% para 100%. Eu respondi que sim, afinal, tenho que ir à escola todo dia – então aumentar a carga horária algumas horas não ia fazer muita diferença para mim. Há dois dias ele veio com um novo contrato para eu assinar. Emprego 100% efetivo!

Não sei muito sobre o próximo ano letivo, mas uma novidade boa é que terei uma colega de trabalho brasileira! Ainda não tive a oportunidade de conhecê-la, mas o diretor disse ter uma ótima impressão de brasileiros por minha causa e ficou contente por contratar mais uma brasileira para o time de professores.

As negociações salariais entre o sindicato dos professores e os representantes dos municípios está em andamento e há a ameaça de greve dia 26 de maio. Eu espero que não haja greve, principalmente por que os alunos podem perder seus exames e isso causa transtornos para todos.

Como é bom estar de férias!

Estou agora escrevendo direto de São Paulo, depois de uma semana na Espanha com a família do meu marido e uma viagem longa via Oslo e Milão. Tudo correu muito bem, não perdemos nenhum voo e nenhuma bagagem, e agora estamos desfrutando o inverno paulistano, com temperaturas altas durante o dia, mas baixas durante a noite. Emprestamos a casa dos meus avós, que estava desocupada. Tivemos muito trabalho para deixá-la habitável, mas agora sentimos que temos uma casinha aconchegante. Estamos passando os dias correndo atrás de documentos, arrumando a casa e descansando também.

Quando estávamos na Espanha, recebi as notas da faculdade. Tirei um A e dois Bs (as notas vão de A a F, sendo que F é reprovação).  Fiquei muito feliz, pois consegui tirar notas altas apesar de todas as outras coisas que tiver que fazer enquanto estudava. Com isso posso me considerar professora do ensino fundamental e médio na Noruega! 😀 O diploma vai chegar só em setembro ou outubro, mas com as notas já posso documentar minha formação superior.

Meu marido vai começar a escrever um blog contando as suas impressões e experiências. Ele já havia estado aqui antes, por períodos curtos, mas agora vamos ficar mais tempo. A ideia é escrever em norueguês e em português com a minha ajuda, mas vamos ver o que conseguimos fazer. O blog vai se chamar, claro, “Vim parar no Brasil”.

Abre alas pra minha folia…

Chegou a hora!

Hoje, concluí uma das etapas mais importantes da minha vida, sobretudo da minha vida de imigrante na Noruega. Entreguei meu portfólio com os meus melhores trabalhos escritos de pedagogia, didática de inglês e de espanhol, entreguei também o trabalho de pesquisa do meu grupo. Ás 12hs30min, recebi uma pergunta em um pedaço de papel:

Explique e expressão ‘problemas de comportamento’. Relacione sua explicação às suas experiências sobre como alunos que apresentam comportamento desafiador são interpretados e descritos na escola.

Fui até uma sala de aula e tive uma hora para preparar uma apresentação para responder à pergunta. Às 13hs30min entrei na sala de aula, onde fui recebida pela professora de pedagogia e uma professora extra, que era fiscal. Expliquei a expressão, relacionei problemas de comportamento à diferença entre meninos e meninas na escola, à diferença entre alunos de maiorias e minorias étnicas, e finalmente à diferença entre classes sociais.Consegui dizer tudo em 10 minutos, o tempo limite. Depois, as professoras fizeram algumas perguntas relacionadas ao tema. Saí da sala com a sensação de que não tinha respondido bem às perguntas.

A agonia durou até às 18hs30min, quando saíram as notas. Tirei A, a nota máxima. Meu objetivo era tirar B, ou C. Missão cumprida. Provei que tenho bons conhecimentos sobre teoria de pedagogia, consigo aplicar as teorias à prática como professora. Me resta esperar as outras notas (dos trabalhos escritos), que saem daqui a três semanas.

Chega de ficar afundada em livros horas a fio, chega de ter que ficar em casa em dias ensolarados. Tenho só mais uma semana de trabalho e então terei merecidas férias, desta vez bem prolongadas!!!

Lugar ao gelo garantido por escrito

Ontem, o diretor da escola me chamou para assinar meu contrato de trabalho. Li atenciosamente o contrato e lá estava a palavrinha mágica: “fast stilling”. Emprego efetivo. Ninguém tirará o emprego de mim, a não ser que eu mesma peça demissão ou faça algo muito, mas muito sério. Nada mais de nervosismo ao final de cada ano letivo, pensando “será que eles vão renovar o contrato para o ano que vem?” e “e se aparecer uma pessoa melhor qualificada e eles a escolherem?” Vou trabalhar 80 %, ou seja, 24, 6 horas semanais. Mas, primeiro vou tirar férias. Longas e merecidas, esquecer trabalho e faculdade por um bom tempo. Ainda não recebi minha cópia do contrato, só vou acreditar completamente quando o tiver em minhas mãos.

Hoje foi o dugnad de primavera aqui no prédio onde moro. Dugnad significa mutirão e todos os moradores (pelo menos no papel) têm que comparecer e trabalhar nas áreas comuns do prédio. Eu e o meu marido trabalhamos no jardim, rastelamos as folhas secas no terraço na parte anterior do prédio, podamos os arbustos e as árvores, lavamos o corredor entre a entrada principal e o terraço, enfim, acho que contribuímos mais que o suficiente. Somente dois moradores não deram sinal de vida, mas, felizmente, aqui é difícil alguém fugir de sua responsabilidade, eles terão que trabalhar depois. Se alguém não paga o condomínio do apartamento, o apartamento é vendido para pagar a dívida e o caloteiro tem que se mudar. Quando eu morei em prédio no Brasil, muita gente não pagava o condomínio e ficava impune (mas, carro zero, ah, isso eles podiam pagar…).

Resultado do nosso trabalho no dugnad de primavera

 

Vim, sofri e venci

Na descrição do meu blog, escrevi que estou batalhando dia a dia para conquistar meu lugar ao gelo. Pois, este dia chegou. Semana passada, fiz entrevista na escola onde trabalho para tentar um emprego efetivo (fast jobb em norueguês). Na Noruega, nenhum professor pode ter fast jobb sem ter curso superior em pedagogia (se bem que há muitos municípios pequenos por aqui empregando gente despreparada para lecionar, geralmente gente da família ou conhecidos – é, existe nepotismo aqui também). Professor sem formação pedagógica tem que se contentar com vikariat (trabalho temporário). Como vou terminar meu curso de pedagogia em junho, em agosto poderei trabalhar como efetiva. Me saí bem na entrevista, mas havia uma questão que poderia fazer com que eu não conseguisse o emprego. Eu quero passar mais de um mês no Brasil nas próximas férias, e por isso teria que recomeçar na escola mais tarde do que os outros professores. Na minha solicitação de emprego, escrevi que queria não somente o emprego, mas também uma licença mais prolongada depois das férias de verão aqui.
Me disseram que eu receberia uma resposta na semana seguinte. Na quarta-feira, o diretor da escola me chamou no escritório e me disse que EU TINHA CONSEGUIDO O EMPREGO E A LICENÇA!!! 🙂. Fiquei, claro, muito feliz! Finalmente, depois de quase sete anos de Noruega, trabalhando dois anos na faxina, fazendo cinco anos de faculdade, sempre com textos para ler, provas, trabalhos para entregar e três anos trabalhando em escolas, sempre sem saber se eu iria estar empregada no ano seguinte, agora poderei respirar aliviada e contar com emprego garantido para sempre! Vou também terminar a faculdade em junho. Daqui pra frente qualquer estudo que eu quiser fazer será um bônus para minha carreira, e não uma obrigação. Claro que eu não vou parar de estudar, mas vou me dar um presentão e descansar muito nessas férias que vêm por aí com meu maridão querido, que nunca, nunca mesmo deixou de me incentivar e dar apoio (mesmo quando a casa estava de cabeça para baixo por que eu tinha que estudar para as provas). Já temos tudo planejado, daqui a mais ou menos dois meses e meio, quando receber meu diploma da faculdade, vou poder gritar para quem quiser ouvir: “CONSEGUI MEU LUGAR AO GELOOOO!”.
Para terminar, minha música de vitórias:

Um ano mais experiente, mas com muito suspense!

Nesta semana que passou fiz aniversário, completei 36 aninhos. Estamos empacotando nossas coisas para mudar, então não quis comemorar aqui em casa. Eu não sou de comemorar com festa, mas no dia, tive vontade de fazer um bolo para mim e para o marido. Ficou muito bom, com morangos belgas docinhos. Esta semana também assinamos o contrato do empréstimo para a compra do nosso apartamento. Agora estou endividada até o pescoço pelos próximos 25 anos, mas felizmente aqui na Noruega podemos viver tranquilamente pagando empréstimo para a compra da casa própria sem ter que passar fome, por que os juros são minúsculos. Tenho também o empréstimo do crédito educativo, que eu inclusive já comecei a pagar.
Exatamente por causa de tantos compromissos com bancos eu estava muito apreensiva esta semana que passou por que o diretor da escola onde eu trabalho começou a comunicar os funcionários que haviam solicitado revonação de contrato se eles iriam continuar ou não. Na quinta-feira, fiquei sabendo que duas professoras que eu jurava que iriam continuar receberam a notícia triste de que não iriam renovar o contrato. Eu comecei a ficar nervosa pela possibilidade de, de repente, ficar desempregada logo depois de ter comprado minha primeira casa própria na Noruega. O tempo passava, eu encontrava com o diretor nos corredores e ele nada de me chamar no escritório para me dizer se eu continuaria ou não. As minhas colegas também me perguntavam a toda hora se eu havia ouvido algo, e eu respondia que não. Até que, na hora de ir embora, uma colega me disse que eu tinha que ir falar com o diretor e perguntar se eu ia continuar ou não. Realmente, eu não queria passar o final de semana agoniada sem saber ao certo se estava no olho da rua ou não. Criei coragem, bati na porta e, ao entrar, expliquei que gostaria de saber o que eles haviam decidido. O diretor então responde que eles querem, sim, renovar o meu contrato, mas temporário com duração de um ano, por que ainda não terminei o curso de pedagogia (traduzindo: em junho do ano que vem, quando eu me formar, provavelmente vou receber uma proposta de contrato efetivo, que aqui se chama fast jobb, e minhas preocupações vão acabar!). Eu comentei com ele que temia que outro candidato com mais formação acadêmica que eu havia conseguido a vaga então ele disse: “Bom, pode até ser que nós recebemos currículos de candidatos com melhor formação acadêmica que a sua, mas isso não significa que eles tinham melhores qualificações que você.” Nessa hora me senti orgulhosa de mim mesma e muito aliviada por saber que não perdi meu precioso emprego. Sem falar no fato de que vou seguir com os mesmos alunos e com quase os mesmos colegas.
Daqui a três semanas entro de férias no trabalho e retornarei somente no meio de agosto. Com a compra do apartamento, não vou poder ir ao Brasil nessas férias de verão aqui, mas vou tentar ir para passar o Natal e o Ano Novo. Tenho que arrumar o novo lar, estudar (já tenho trabalho de pedagogia para entregar, que beleza…) e claro, descansar, por que esse ano letivo que se encerra foi muito tenso e cansativo.

Nem só as notícias ruins vêm aos baldes…

Sopa feita pelos alunos e para os alunos

Esta semana que se encerra hoje foi talvez a mais repleta de novidades de toda a minha ainda curta história na Noruega. Tudo começou na segunda-feira, quando eu iniciei uma jornada de três dias de reuniões para realizar o projeto da escola ao ar livre na faculdade de pedagogia. Na segunda e na terça planejamos as atividades e na quarta os alunos de uma escola das redondezas vieram passar o dia conosco. O dia estava quente e ensolarado, as crianças eram muito obedientes e nenhuma nos deu problemas. O meu grupo optou por ensinar as crianças a preparar uma sopa de legumes, que cozinhamos ao ar livre. Primeiro, elas receberam a receita metade em inglês, metade em espanhol, e tiveram que traduzí-la para o norueguês. Depois tiveram que calcular quanto de cada ingrediente seria preciso para fazer sopa para 50 pessoas. E, finalmente, eles aprenderam como lavar as mãos corretamente antes de preparar alimentos e então todos começaram a picar os legumes. A sopa ficou pronta bem na hora do almoço e todos gostaram. Nosso grupo trabalhou somente no período da manhã, então depois do almoço nós pudemos observar os outros grupos. 

Na terça, depois da faculdade, eu e o Morten fomos ver um apartamento que estava à venda aqui perto. Nos últimos meses temos procurado apartamento, pois já vai fazer 3 anos que moramos aqui e não queríamos alugar o apartamento por mais três anos. Sem falar que alugar por muito tempo é um desperdício de dinheiro, pois pagamos por algo que não é nosso. O mercado de venda imóveis na Noruega, ao menos nas cidades grandes, é bem concorrido. Para se ter uma ideia, no anúncio aparece o preço pelo qual o móvel foi avaliado e o dia e horário para a visitação (geralmente 1 hora apenas).Os interessados visitam então o imóvel e perguntam o que querem saber para o corretor. Os que ainda se interessam pelo imóvel escrevem seu nome em uma lista. No dia seguinte, os interessados têm que enviar uma proposta por escrito de quanto querem pagar pelo imóvel. O corretor então envia essas propostas para o proprietário e para os outros interessados. Outros interessados podem oferecer uma quantia maior e começa aí um verdadeiro leilão pela propriedade (os lances depois do primeiro por escrito podem ser dados por telefone). Os interessados vão desistindo um por um até restar um sortudo que arremata o imóvel. Esse sistema não me agrada muito, porque o imóvel muitas vezes acaba saindo mais caro que seu valor real. Bom, continuando, na terça fomos ver esse apartamento e gostamos muito. Resolvemos participar do leilão na quarta e, logo depois de eu ter servido a sopa para os alunos na faculdade, meu marido me telefonou para dar a boa notícia: o apartamento era nosso! Nesse mesmo dia era aniversário do meu sogro e fomos visitá-lo para comemorar tanto o aniversário dele como nossa vitória.
No ônibus a caminho dos meus sogros, meu celular toca e recebo a ligação do rapaz que havia me convidado para fazer o teste do comercial em português sobre o qual comentei em outra postagem. Ele me deu outra notícia boa: o cliente gostou da minha voz e queria que eu fizesse o comercial. Daqui a pouco vou até lá e gravar o texto!
E, como se ainda não bastasse, ontem, quinta-feira, fui chamada para uma entrevista na escola onde trabalho e creio que tudo correu bem. Só vou saber se continuo na escola no final do mês, mas, pelo que eu ouvi dos chefes durante a entrevista, estou confiante.
Hoje ainda é sexta, quem sabe ainda tem outra notícia boa voando por aí…
Mas, estou muito satisfeita e grata por tudo de bom que aconteceu essa semana.

Nada é por acaso

Quando eu tinha 12 anos, falei para minha mãe que queria desistir do balé para entrar em uma escola de inglês. A sapatilha de ponta e eu não estávamos nos dando bem e a professora, que até podia entender de balé, mas não entendia nada de pedagogia infantil, me desmotivou. Minha mãe me entendeu e me matriculou no CNA. Na escola de inglês, pelo contrário, eu encontrei a minha praia. Aprendia tudo tão rápido que, dois anos depois eu estava no último estágio, aos catorze anos junto com adultos. Depois disso o inglês passou a fazer parte da minha vida. Escrevi muitas cartas em inglês aos meus amigos por correspondência, todos fãs do A-ha (que saudade daquela época!) e lia os fanzines do fã-clube alemão em inglês. Aos 19 anos arrumei emprego de professora de inglês em uma escola de idiomas e esta tem basicamente sido minha profissão desde então. Cinco anos depois comecei a dar aulas particulares ao mesmo tempo em que trabalhava na escola e logo em seguida pedi demissão da escola para me dedicar somente aos alunos particulares. Com meu salário me mantive bem e sustentei ex-marido (essa parte eu prefiro pular) e alguns sombrios meses depois do divórcio comecei a usar a internet para conhecer pessoas (na época eu não admitia, mas hoje percebo que no fundo eu queria conhecer alguém especial). Nada de sites de relacionamento, eu entrava em salas de bate papo do pré-histórico mIRC para falar com pessoas de todo o mundo – em inglês, claro. Um belo dia em 2004, conheci um norueguês que logo na primeira conversa me mandou uma foto com um bacalhau de 15 quilos que ele havia pescado. Aí se iniciou a história que é o motivo pelo qual eu vim parar na Noruega. Ou seja, o inglês faz parte da minha vida e devo muito ao fato de eu ter aprendido inglês.
Depois de semanas de trabalho e estudos (recebi o resultado de duas provas e passei!), chegou o tão esperado dia. Amanhã vou finalmente conhecer o país de origem desse idioma que significa tanto para mim. Já estive nos EUA, mas Inglaterra é mais especial, pois desde quando estava no CNA sonhava em estudar lá. Lembro da minha mãe dizendo que, se ela pudesse, me mandaria para a Inglaterra por uns meses para estudar. Uma pena mamãe não estar mais aqui para ver que eu estou finalmente indo para lá, mesmo não sendo para estudar. Vou aprender muita coisa, mas sem ter estar em um banco de escola. Planejamos cada detalhe da viagem e tenho certeza de que vai ser inesquecível – e ainda por cima vamos dirigir na mão inglesa! Que medo!

Composed upon Westminster Bridge, September 3, 1802

Earth has not anything to show more fair:
Dull would he be of soul who could pass by
A sight so touching in its majesty:
This City now doth like a garment wear

The beauty of the morning: silent, bare,
Ships, towers, domes, theatres, and temples lie
Open unto the fields, and to the sky,
All bright and glittering in the smokeless air.

Never did sun more beautifully steep
In his first splendour valley, rock, or hill;
Ne’er saw I, never felt, a calm so deep!

The river glideth at his own sweet will:
Dear God! the very houses seem asleep;
And all that mighty heart is lying still!

William Wordsworth